quinta-feira, junho 01, 2006

Tempo

Um homem nunca entra em um rio mais de uma vez. Com essa constatação de Heráclito podemos definir o principal efeito do tempo sobre as pessoas que é, em princípio, só termos uma única chance de fazer qualquer coisa. Isso é, nossa impotência diante do fato de não podermos voltar atrás um segundo sequer de nossas vidas...

O tempo muda tudo... o homem... o rio... tudo. Isso pode ser bem ruim quando se transforma em nostalgia apática. Mas esse é apenas um lado dos efeitos do tempo, pois só ele é capaz de transformar as pessoas trazendo a elas a dádiva da experiência responsável por torná-las tão completas.

Acho que hoje, finalmente, compreendo como o tempo funciona, mudando a todos, a todo instante, em paralelo. Pude sentir isso reencontrando pessoas, relembrando histórias, revivendo sentimentos. Entre tantas coisas, descobri que só o tempo pode nos levar uma menina e nos devolver uma grande mulher.

Parafraseando Heráclito, carregado de lágrimas escrevi um dia que um homem nunca ama uma mulher mais de uma vez, mas quando escrevi, só pensava em como esse amor é frágil e em sua tendência a acabar. Hoje voltaria a mencionar a mesma frase, mas com um tímido e desconfiado sorriso de esperança no rosto, pois, apesar dos pesares, acredito que também mesmo sendo tão frágil e inconstante o amor, um homem pode amar a cada dia a nova mulher que o tempo trás transformada.

O tempo é mesmo engraçado, pode até mudar o que esperamos do futuro. A cada amor descoberto, um lindo conto de fadas, e a cada desilusão, um bar sombrio... e outra desilusão, outro bar... e um blues.

E assim segue o tempo. As pessoas sempre transformando seus sonhos em passado antes mesmo de vivê-los, sempre culpando o tempo mas deixando seus medos trancarem os sonhos em um nostálgico "e se...".

"Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
a outra metade é silêncio."
Metade (Mauro Burlamaqui Sampaio)

Postado por Verso

3 Comments:

At 12:07 PM, Blogger Mauro Burlamaqui Sampaio said...

Belo texto !

Só se ama uma vez , porque o depois é o depois , este depois é diferente e diferente é o que sentimos , fica a forma do amor moldada em molde rígido e o seguinte em novo molde que se oferece novamente mas, diferente , sempre diferente .

Parabéns ,

Mauro Burlamaqui Sampaio

Que agradeçe também a estrofe.

 
At 12:51 AM, Anonymous Anônimo said...

eu adoro esta poesia 'metade'.
tenho na íntegra, acho perfeito.

beijos.

 
At 4:45 PM, Blogger Naeno said...

um dia acaba
E fica o quê dessa ilusão
Um peito cheio de mágoa
Vazio um coração.

Amor um dia passa
E o que se vê do furacão
As mãos tateando nada,
Faltando aos pés o chão.

Amor, te disse,
Que não era tão somente.
Um beijo ardente,
A pele rente, se molhar.

E fico nisso, amor
Penssando, ah se tu visses
Quando me dise,
Amor não pode acabar.

Um beijo do amigo
Naeno
Vou licar-vos entre os meus prediletos.

 

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